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Entrevista ao designer e professor universitário João Bernarda, que está neste momento a desenvolver um projeto de investigação chamado «Defigne» em parceria com a CERCICA Rana. Este neologismo parte da junção de duas palavras, «design» e «define», e dá-nos uma pista muito grande sobre o papel e a importância da inovação no setor social, com todo o seu potencial de ressignificação, resposta a necessidades e quebra de barreiras.

 

Fala-nos um pouco sobre ti — quem és tu, onde trabalhas e como surgiu este interesse pelo terceiro setor em geral.

Sou designer e docente investigador na Universidade Europeia/IADE, onde leciono unidades curriculares ligadas ao Design de Produto. Antes disso trabalhei como freelancer em diversas áreas, desde publicidade, design de produto e eventos e comunicação. Após 12 anos de experiência, decidi iniciar em 2016 o PhD em Design com foco no setor social, por motivos pessoais e alguma sensibilidade transmitida em família. Assim, inscrevi-me no IADE e, ao longo de 5 anos, tive oportunidade de contactar com realidades distintas onde assisti a situações de vulnerabilidade, isolamento e discriminação social, que tornaram ainda mais evidente a necessidade de intervir. Desde então foi possível colaborar com algumas entidades desde a Junta de Freguesia da Estrela, APCL, CERCI (Oeiras e Lisboa), Associação Diferenças, CAMPINTEGRA, Santa Casa da Misericórdia (Centro de Dia Frei Contreiras), Associação ARIA, Associação Alzheimer Portugal e, mais recentemente, a CERCICA.

 

Costumas dizer «Nós, os designers, materializamos ideias». Penso que não há terreno mais fértil para a inovação que isto. Podes dar-nos alguns exemplos de como o design pode criar soluções inovadoras para o terceiro sector?

O facto de ter passado por diversos setores onde pude desenvolver diferentes aptidões na área do Design facilita o meu processo criativo e de desenvolvimento de produtos. Com o feedback da experiência dos técnicos de saúde, que já conhecem o potencial dos clientes, o processo criativo adquire uma dinâmica natural. Por exemplo, criámos um adaptador de colheres com colheres mais pequenas do que aquelas que eram usadas para alimentar certos utentes com mais dificuldades motoras. Assim, estes podem finalmente comer sozinhos porque as quantidades são as adequadas à sua condição.

Este é um exemplo prático de como este projeto visa melhorar a eficiência das atividades do dia-a-dia para que os utentes possam ser mais autónomos.

 

Como encontraste o Estado da Arte da Ciência em relação às pessoas com deficiência e incapacidade? Ou seja, até que ponto consideras que a Ciência e Investigação estão desenvolvidas no que respeita ao trabalho diário com este público e como é que um projeto como o teu pode ajudar nesse processo de descoberta?

Na realidade com a qual tenho tido contacto, essencialmente na zona de Lisboa, o Design tem bastante espaço para crescer e ser implementado com este público. Há uma grande abertura por parte das instituições para acolher novas práticas e metodologias.

Um dos propósitos do meu projeto assenta nessa premissa, de demonstrar a mais-valia do Design no setor, mais concretamente na área da deficiência intelectual.

 

Para terminar, conta-nos o que já aprendeste com os clientes da CERCICA, ou conta-nos uma história engraçada com algum deles.

Posso destacar um cliente que tem vindo a demostrar uma grande resiliência e capacidade de adaptação aos desafios que temos proposto, obrigando-me a progredir enquanto designer e criativo. Tem sido um duelo interessante e uma motivação extra.

 

 

Estoril, 12 de agosto de 2022